quinta-feira, 4 de março de 2021

Rio da Meada - Intervenção

 

Vertente de Arte Urbana é uma das considerações sobre o que define uma Intervenção. 

Promover, interferir, transformar, encantar, registrar, impactar, resgatar, atrair, instigar, surpreender... seja qual for o seu propósito, a céu aberto ou no interior de um edifício, ela utiliza planos físicos, intelectuais e sensoriais para causar uma reação.

A linha delineada na calçada, que se alarga em mosaico colorido, invade o tubo do ligeirinho ao som do murmúrio das águas. Esta linha prossegue e  reflui  para sua origem, resgate da memória, e provocação à curiosidade.

De onde vem esta  correnteza, força  que nos impulsiona,  assim colorida, que atravessa dutos, sobe desce, murmura e serpenteia?

Outrora a cidade tinha outro aspecto. Rios navegáveis, que permitiam barcos de passeio e ofereciam água potável. Córregos onde crianças se divertiam com peixinhos coloridos.

Entretanto a região central era circundada por charcos, áreas pantanosas e malcheirosas que poderiam abrigar micróbios, suspeitas até de concentrar cólera e tifo.

Mudamos a paisagem, drenamos águas, aprisionamos (e poluímos) rios desde os idos do século XIX. 

Apesar da mata original ter cedido espaço ao concreto, ainda existe beleza sobre eles. 

Arte nas ruas, praças, muros, e museus,  que se espalham ao redor dos seus antigos leitos. Rios invisíveis nos caminhos que conduzem para lá, para cá...

Rio da Meada é um pequeno resgate, de cursos d'água, da região Norte, que se dirigem ao Rio Belém.

Estruturado através da memória dos antigos moradores dos  bairros Ahú, Juvevê, Cabral, Alto da  Gloria, e Centro Cívico, que vivenciaram  nascentes e percursos destes fluxos de água.

Desvenda através do olhar de três mulheres, que vivem, estudam e transitam pelo bairro, as inúmeras expressões artísticas mantendo a beleza da cidade repaginada.

Existem  janelas nas partes descobertas destes córregos e rios, sejam pequenos trechos  a céu aberto, ou respiros.  Aberturas que conectam  superfície e subterrâneo permitindo espiar o rio submerso, tanto quanto ele nos espia, talvez enciumado do colorido que há na superfície...

Memorial Descritivo

A representação desta intervenção, Rio da Meada, foi  pensado a princípio,  sobre  técnicas de assemblagem e arte têxtil, usando predominantemente fios e cordões.

Inicialmente seria tela tridimensional onde mapa cartográfico representaria  cursos d'água subterrâneos e a superfície logo acima, onde navegamos no cotidiano, ao largo de vários ícones artísticos/históricos/Culturais.

Na evolução tal tela se  transformou em maquete, dividida em background  (base)  com o traçado de percursos subterrâneos e visualização de antiga vegetação nativa, e layer (camada trannsparente) adicionando sobre a superfície a instalação da  Intervenção Urbana, assim como ícones representativos de pontos de valor artístico, cultural ou histórico que posteriormente seriam marcados com mobiliário urbano.

A camada inferior foi construida em tela canvas com  textura de círculos irregulares em barbante e fio macramê. Posteriormente esta textura foi pintada com tinta acrílica em cores  análogas as da vegetação nativa, e dos antigos cursos de rios. Resgate da memória.

 Sobrepondo-se ao 'background' obteve-se  transparência da layer  através do acetato, que recebe colagem em fios, e pequenos ícones geométricos com reproduções fotográficas dos locais  artísticos/culturais espalhados nos bairros contemplados no estudo - Ahú, Alto da Glória, Cabral, Centro Cívico e Juvevê.   

Tênue linha  em fio de nylon delimita quadros no acetato em alusão a 'Regra dos Terços" da composição de imagens.

Representando a "Linha do Rio"  na calçada, evocamos o trajeto do rio Juvevê , e um dos seus afluentes, ora subterrâneo, ora na superfície. 

Botons com as fotos das participantes do Projeto, e da Universidade a qual se destina, também estão colocados  nas suas respectivas localizações residenciais sobre o mapa cartográfico.

Na Avenida João Gualberto, entre as ruas Moisés Marcondes e Manuel Eufrasio há um marco da trajetória do rio constituindo ponto focal da Intervenção Urbana, sobre a calçada, interrompendo a 'linha do rio' neste momento, que prosseguirá dentro do   tubo do ligeirinho.

Mosaico de pedras coloridas  reproduz as formas ondulantes da água como se projetassem seu curso para dentro do tubo ligeirinho através de uma rede de pesca, colocada numa das extremidades.

Esta rede que carrega figuras simbólicas em crochê ,como os peixinhos coloridos presentes na memória dos moradores, permite a passagem dos fios ( linha do rio)  para o interior do tubo Moisés Marcondes (ligeirinho), saindo na outra extremidade e perfurando a calçada  ao voltar para o rio.

Tal figura metafórica aponta o tubo como uma das janelas entre estes dois paralelos, subterrâneo e superfície,que nos permite espiar o rio tanto quanto somos espiados. As janelas simbólicas se equiparam as verdadeiras, respiros e trechos a céu aberto.

Som ambiente dentro do tubo  relembra o murmúrio das águas promovendo o conforto inerente ao contato com  ruídos da Natureza .

As duas camadas do mapa cartográfico estão suportadas por uma caixa de papelão feita para suas medidas.

Para a construção do Portifólio deste projeto usou-se o registro em plataforma virtual utilizando técnicas de  colagem digital, fotos, vídeos, textos explicativos, poemas, caixas de links, e registros musicais.

Para o plano de fundo  destes apontamentos foram feitas aquarelas, manualmente,   representando correntezas e fluidez das águas, nos tons da paleta do projeto. 

Imagens do transcorrer deste  processo, na linha de tempo de 30 dias,  está registrado nas página "Making of" e Mapa Artístico - Makibg Off  do blog Rio da Meada.

                                                            www.riodameada.blogspot.com


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