Vertente de Arte Urbana é uma das considerações sobre o que define uma Intervenção.
Promover,
interferir, transformar, encantar, registrar, impactar, resgatar, atrair,
instigar, surpreender... seja qual for o seu propósito, a céu aberto ou
no interior de um edifício, ela utiliza planos físicos, intelectuais e
sensoriais para causar uma reação.
A linha delineada na calçada, que se alarga em mosaico colorido, invade o tubo do ligeirinho ao som do murmúrio das águas. Esta linha prossegue e reflui para sua origem, resgate da memória, e provocação à curiosidade.
De onde vem esta correnteza, força que nos impulsiona, assim colorida, que atravessa dutos, sobe desce, murmura e serpenteia?Outrora
a cidade tinha outro aspecto. Rios navegáveis, que permitiam barcos de
passeio e ofereciam água potável. Córregos onde crianças se divertiam
com peixinhos coloridos.
Entretanto a região central era circundada por charcos, áreas
pantanosas e malcheirosas que poderiam abrigar micróbios, suspeitas até
de concentrar cólera e tifo.
Mudamos a paisagem, drenamos águas, aprisionamos (e
poluímos) rios desde os idos do século XIX.
Apesar da mata
original ter cedido espaço ao concreto, ainda existe beleza sobre eles.
Arte nas ruas, praças, muros, e museus, que se espalham ao redor dos
seus antigos leitos. Rios invisíveis nos caminhos que conduzem para lá, para cá...
Rio da Meada é um pequeno resgate, de cursos d'água, da região Norte, que se dirigem ao Rio Belém.
Estruturado através da memória dos antigos moradores dos bairros Ahú, Juvevê,
Cabral, Alto da Gloria, e Centro Cívico, que vivenciaram nascentes e percursos destes
fluxos de água.
Desvenda através do olhar de três mulheres, que
vivem, estudam e transitam pelo bairro, as inúmeras expressões
artísticas mantendo a beleza da cidade repaginada.
Existem janelas nas partes descobertas destes córregos e rios, sejam pequenos trechos a céu aberto, ou respiros. Aberturas que conectam superfície e subterrâneo permitindo espiar o rio submerso, tanto quanto ele nos espia, talvez enciumado do colorido que há na superfície...
Memorial Descritivo
A representação desta intervenção, Rio da Meada, foi pensado a princípio, sobre técnicas de assemblagem e arte têxtil, usando predominantemente fios e cordões.
Inicialmente seria tela tridimensional onde mapa cartográfico representaria cursos d'água subterrâneos e a superfície logo acima, onde navegamos no cotidiano, ao largo de vários ícones artísticos/históricos/Culturais.
Na evolução tal tela se transformou em maquete, dividida em background (base) com o traçado de percursos subterrâneos e visualização de antiga vegetação nativa, e layer (camada trannsparente) adicionando sobre a superfície a instalação da Intervenção Urbana, assim como ícones representativos de pontos de valor artístico, cultural ou histórico que posteriormente seriam marcados com mobiliário urbano.
A camada inferior foi construida em tela canvas com textura de círculos irregulares em barbante e fio macramê. Posteriormente esta textura foi pintada com tinta acrílica em cores análogas as da vegetação nativa, e dos antigos cursos de rios. Resgate da memória.
Sobrepondo-se ao 'background' obteve-se transparência da layer através do acetato, que recebe colagem em fios, e pequenos ícones geométricos com reproduções fotográficas dos locais artísticos/culturais espalhados nos bairros contemplados no estudo - Ahú, Alto da Glória, Cabral, Centro Cívico e Juvevê.
Tênue linha em fio de nylon delimita quadros no acetato em alusão a 'Regra dos Terços" da composição de imagens.
Representando a "Linha do Rio" na calçada, evocamos o trajeto do rio Juvevê , e um dos seus afluentes, ora subterrâneo, ora na superfície.
Botons com as fotos das participantes do Projeto, e da Universidade a qual se destina, também estão colocados nas suas respectivas localizações residenciais sobre o mapa cartográfico.
Na Avenida João Gualberto, entre as ruas Moisés Marcondes e Manuel Eufrasio há um marco da trajetória do rio constituindo ponto focal da Intervenção Urbana, sobre a calçada, interrompendo a 'linha do rio' neste momento, que prosseguirá dentro do tubo do ligeirinho.
Mosaico de pedras coloridas reproduz as formas ondulantes da água como se projetassem seu curso para dentro do tubo ligeirinho através de uma rede de pesca, colocada numa das extremidades.
Esta rede que carrega figuras simbólicas em crochê ,como os peixinhos coloridos presentes na memória dos moradores, permite a passagem dos fios ( linha do rio) para o interior do tubo Moisés Marcondes (ligeirinho), saindo na outra extremidade e perfurando a calçada ao voltar para o rio.
Tal figura metafórica aponta o tubo como uma das janelas entre estes dois paralelos, subterrâneo e superfície,que nos permite espiar o rio tanto quanto somos espiados. As janelas simbólicas se equiparam as verdadeiras, respiros e trechos a céu aberto.
Som ambiente dentro do tubo relembra o murmúrio das águas promovendo o conforto inerente ao contato com ruídos da Natureza .
As duas camadas do mapa cartográfico estão suportadas por uma caixa de papelão feita para suas medidas.
Para a construção do Portifólio deste projeto usou-se o registro em plataforma virtual utilizando técnicas de colagem digital, fotos, vídeos, textos explicativos, poemas, caixas de links, e registros musicais.
Para o plano de fundo destes apontamentos foram feitas aquarelas, manualmente, representando correntezas e fluidez das águas, nos tons da paleta do projeto.
Imagens do transcorrer deste processo, na linha de tempo de 30 dias, está registrado nas página "Making of" e Mapa Artístico - Makibg Off do blog Rio da Meada.
www.riodameada.blogspot.com